Carta "Saudade"
O maluco que envia cartas a conhecidos e desconhecidos
Todas as casas, Todo o mundo
Caros(as) Destinatários(as),
Olá,
Como têm andado? Com muitas saudades de estarem com mais gostam ou até mesmo de ir até aquela explanada a beira mar? Com estas duas frases iniciais, já se aperceberam do tema da carta que vos chegou hoje na caixa de correio. Antes de começar a escrever sobre este tema vou deixar só aqui uma curiosidade: a palavra "Saudade" é uma das 3 palavras portuguesas que não tem tradução.
Falar na palavra saudade é falar num sentimento que nos dias de hoje faz todo o sentido, porque nestes tempos de pandemia só ouvimos ou dizemos: "que saudades de te abraçar!"
Será que a saudade é um sentimento que só existe quando
sentimos falta do que já nos fez feliz?
Saudades são memórias felizes, porque a saudade consiste em algo feliz que se
vivenciou e nunca em algo que nunca se teve.
Madre Teresa de Calcutá já dizia que a saudade não tem braços, mas aperta muito. E se aperta! Aperta, inquieta, dói, faz o coração bater mais rápido, faz pensar, tirar o sono, ....
Quem nunca teve saudades de beijos que recebeu, e que nem
dava conta do quão calorosos eram?
Nestes dias na falta deles fica a saudade e a sensação que não os aproveitamos
com a intensidade que devíamos. Tenho falado de beijos, mas também posso
referir-me a abraços, sorrisos, entre tantas outras coisas, que nos aquecem o coração
e que muitas vezes não retribuímos e nem chegamos a aproveitar, porque estamos
distraídos com coisas sem valor.
Não quero apenas referir-me ao amor romântico, mas sim a todo o tipo de afetos sejam eles de amigos, familiares e até mesmo ao patudo lá de casa.
Já pararam para pensar que num mundo onde tudo tem um custo monetário, os
afetos são de graça e ainda continuam a ser ignorados por diversos motivos?
Será que temos medo ou estamos distraídos?
Já pararam para pensar que devíamos de aproveitar o que ainda é de graça, para usar e abusar sem limites? Eu digo sempre que é nas coisas simples que encontramos a verdadeira felicidade.
Já repararam que a maior riqueza está nos afetos, abraços, beijos, sorrisos, cumplicidade, num simples adoro-te ou mesmo num simples amo-te? Como já referi em cima nesta carta: A saudade consiste em algo feliz que se vivenciou e nunca em algo que nunca se teve.
Já repararam que nunca vão ter saudades de algo material como por exemplo um telemóvel ou um computador, porque na aquisição de um novo, o que tínhamos antes desaparece das nossas mentes?
Será que depois desta pandemia, que nos privou de afetos, convívios, abraços, beijos,...iremos ser menos consumistas de bens materiais, passaremos finalmente a ser consumistas do que nos enche a alma de saudades?
Lanço-vos agora uns pequenos desafios desta carta: Vamos ter mais coragem e correr o risco de sentir saudades?
Vamos finalmente cultivar a riqueza, os afetos e com o coração quente derreter o gelo? Será que temos coragem para isso? Será que vamos ser capazes de deixar de sentir falta do que no nosso pensamento nos vai fazer feliz?
Muitas vezes temos utopias de algo que nos facilita a vida e nos põe apenas na moda, mas que não é capaz de nos preencher a alma e fazer genuinamente felizes!
Lanço mais outro desafio: Vamos a partir de agora, trabalhar em aumentar as nossas saudades futuras? (A saudade só existe, porque já foste muito feliz e se calhar nunca te deste conta de como foste feliz!)
Tu que estás a ler esta carta, conta-me o motivo das tuas saudades! (gostava que relembrasses o motivo das tuas saudades e o motivo de seres ou de teres sido feliz.)
P.s: Não se esqueçam de cultivar saudades, porque ao cultivar estão a ser felizes!
Atenciosamente,
O maluco que escreve cartas a conhecidos e desconhecidos