Entrevista a José Camilo
A entrevista que se segue é sobre um rapaz dos subúrbios de Lisboa, escritor, compositor, musico. Nada mais do que José Camilo um "escritor de canções". Fiquem com a entrevista que se segue e conheçam um pouco mais sobre ele.
1. Quem é o José Camilo?
R: O José Camilo é um rapaz dos subúrbios de Lisboa, daqueles cuja paisagem se limita a prédios
e bairros degradados e não os que estão perto do mar (isso faz toda a diferença). Foi um puto
privilegiado no meio em que cresceu, teve sempre acesso a livros, música e educação superior.
Dedicou-se a estudar teatro, música e literatura, tornando-se profissional nessas áreas.
Aprendeu a falar dele próprio na 3ª pessoa a ver entrevistas do Jardel (jogador de futebol).
2. Quando é que o Rock entrou na sua vida?
R: Não sei precisar, sei que antes do rock existia o Michael Jackson. Quando era criança adorava tudo o que estava relacionado com o rei da pop. No início da adolescência falava-se muito nos
Nirvana e foi essa a porta de entrada para o rock. Tive a sorte de uma banda lendária do
hardcore nacional, os X-acto, ensaiarem (e até darem concertos) perto da minha casa. Eram
miúdos mais velhos do que eu que andavam por ali, ao vê-los tocar pensei: "gostava de fazer
aquilo".
3. Quais são os artistas que mais influência têm no seu trabalho?
R: Bem, os mais evidentes estão relacionados com um rock mais agressivo: Nirvana, algumas
bandas de punk; mas há muitos que não são tão óbvios. Alguns projetos de spoken word, o
Leonard Cohen, Bob Dylan, Sérgio Godinho e mais alguns cantautores.
4. Se pudesse fazer uma tour por onde iria?
R: Por onde me pagassem.
5. No álbum "obra camiliana" na música sangram os dias, fala sobre não querer ser livre,
ser lido. De que maneira esta poesia escrita retrata a sua vida no momento?
R: A escrita tem uma importância enorme na minha vida. Editei um livro de poesia em 2021 e
tenho coisas em prosa na calha. As canções são mais uma forma de escrita, uma letra tem uma
linguagem própria e os instrumentos são ferramentas para eu criar o universo da letra.
Quando pego na guitarra, estou a compor (quase sempre, porque também já compus
instrumentais) para servir a letra. Nesse sentido, ser lido é importante para mim.
6. Escritor, compositor, cantor, como se caracteriza neste mundo do rock?
R: No mundo da música caracterizo-me como escritor de canções.
7. Na música "Piruetas de Glória", do álbum Subterrâneo, diz que a arte não é para
medrosos. Que tipo de arte é esta que fala?
R: Todo o tipo de arte. Ser artista é estar exposto ao ridículo e não ter medo disso, é estar
constantemente a ser julgado, é falhar em frente dos outros, é ter uma vida financeiramente
instável, é tudo isto e, mesmo assim, continuar. Se deixas que isso entre na tua cabeça, passas
a ter medo e não consegues avançar.
8. Dia 22 deste mês lançou "Sangue beirão, Faca no coração". Que mensagem quer transmitir às pessoas?
R: É uma canção sobre crescer rodeado de contradições e não saber bem onde é que pertence.
9. Este novo projeto é um recomeço?
R: A diferença entre este disco e os outros é que este é um disco coletivo. Antes eu escrevia,
compunha, fazia os arranjos e gravava. Quando parti para este projeto decidi que queria
convidar os Cúmplices (a banda que me acompanha ao vivo) para fazerem os arranjos e
gravarem o disco comigo. Deixou de ser um disco a solo para ser um disco de banda.
10. De onde vem a inspiração para as suas letras?
R: Nunca há um sítio específico, são ideias que aparecem num qualquer momento e que vou
desenvolvendo.
11. Projetos para o futuro já tem?
R: Editar um longa-duração
12. O que dizem os seus olhos?
R: Não te quero desiludir, contudo, tenho que te dizer que não são os olhos que falam, é a boca.
13. O que esconde atrás de um sorriso?
R: Depende, se a boca estiver fechada são os dentes.
14. Já lançou vários álbuns até a atualidade, qual foi o que mais o marcou?
R: Normalmente, os músicos respondem que foram todos de maneira diferente, mas comigo não
é assim. O disco Obra Camiliana marcou-me porque me abriu portas que até aí estavam
fechadas, tive boas oportunidades e boas experiências.
15. Se não pudesse viver no mundo da música, que profissão teria?
R: Essa é fácil. Desde a pandemia que voltei à minha profissão de origem. Sou professor de
português.
16. O que gosta de exprimir enquanto canta?
R: Gosto de concertos enérgicos, de dançar e saltar em palco, de cantar como se as palavras
furassem a cabeça. Não sei como se chama esta emoção, no entanto, é isso que sinto.
17. Para você, qual é o melhor álbum/música do ano?
R: A melhor música do ano é sempre a minha.
18. Onde podemos seguir todo o seu trabalho?
R: Podem seguir em josecamilomusico no instagram, facebook e youtube e ouvir a música em
todas as plataformas digitais.
19. Como é o seu processo criativo?
R: Vou apanhando ideias ao longo do tempo. Se for uma ideia musical registo-a no gravador do
telemóvel, caso seja uma ideia lírica escrevo-a num caderno com que costumo andar. Assim,
vou construindo um arquivo para quando chegar a altura da composição. Nesse momento, é
partir pedra. Sento-me durante horas com a guitarra, a caneta e o papel (se estivermos a falar
de letras, a prosa escrevo ao computador). É algo que faço isolado e num processo demorado,
contudo, condensado num certo espaço de tempo, o resto do ano estou a recolher ideias e a escrever apontamentos.
20. Que história da sua carreira o marca mais?
R: Não tenho uma que me marque mais, tenho algumas engraçadas e outras um bocado tristes.
Lembro-me de me agendarem um concerto numa zona do país onde nunca tinha tocado, não
me apercebi mas era para tocar num supermercado enquanto as pessoas faziam as compras.
Foi horrível, era uma tour em que ia sozinho com a guitarra e só se ouvia o sistema de som da
loja a chamar pessoas para a receção.
21. Se tivesse que deixar uma mensagem para as pessoas o que diria?
R: Não marquem concertos acústicos em supermercados.