Entrevista a Tiago Ribeiro

03-04-2021

A entrevista que se segue, é ao jovem médico dentista Tiago Ribeiro. Um rapaz com muitas paixões, ambições e com várias visões da vida. Nesta entrevista podes ficar a conhecer um pouco mais do Tiago e o seu trabalho.

1. Quem é o Tiago?

R: O Tiago é, acima de tudo, um rapaz com muitas paixões, um tanto ambicioso, um pouco inconstante e de várias vontades - como qualquer bom geminiano - deslumbrado (mesmo tantos anos depois) e apaixonado por "isto" que todos nós somos e carregamos, que é o corpo humano e toda a ciência que engloba.

Sou fascinado e acho incrível que, sendo a coisa mais 'antiga' e 'conhecida' que existe, ainda hoje em 2021 não se sabe ainda com certeza como tudo funciona e se equilibra em termos de órgãos, sistemas etc.

Em relação a outras "andanças" considero que tenho visões próprias sobre assuntos da atualidade e adoro ter esse tipo de discussão com os meus amigos. Machismo, feminismo, racismo, religião, politica são temas que me fazem pensar muito - perco várias horas a tentar saber mais sobre isso e tentar perceber os dois lados das questões (nestes temas e em qualquer coisa).

Apaixonado por comida e tradições portuguesas.

Ídolos: Ricardo Araújo Pereira e João Lobo Antunes

2. O que dizem os teus olhos?

R: Dizem várias coisas, acho que os meus olhos são difíceis de decifrar..., mas ao mesmo tempo são a parte mais sincera de mim. São um verdadeiro poligrafo (os meus e os de qualquer um, acredito eu). Quando estou realmente feliz são olhos de criança (olhos e não só - acho que sou muito espontâneo e finjo muito mal!). Sinto que já não é qualquer coisa que me faz explodir de alegria, mas sempre que descubro uma dessas coisas, todos os que estão á minha volta sentem isso! Pelo contrário, quando o dia vai monótono é também fácil de perceber.

Acho que uma característica interessante em mim é a capacidade de não dar importância ao que não tem. Eu acredito sempre (já dizia a Cristina Ferreira) que quando o dia corre pior é porque no dia seguinte vai ser um dia incrível - e se não for no próximo é no outro a seguir.

3. Como te caracterizas com uma frase?

R: "Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais". É uma frase de Saramago que reflete muito como eu gosto de viver - tentando dar valor ás coisas que estão á nossa frente todos os dias, que podem ser a nossa família, o nosso trabalho, os nossos amigos..., e que, por estarmos tão submersos nessa realidade e a darmos por adquirida, muitas vezes não a sabemos valorizar.

Acho que ás vezes temos de ser como o peixe "quatro-olhos" do Sermão de Santo António aos peixes, mas em vez de olharmos para cima para termos medo das aves podemos olhar para o topo e ambicionar ou sonhar com o que queremos ser e fazer; e olhar para baixo de forma a valorizar quem somos e onde estamos - olhar com consciência do dever que temos uns para os outros de nos ajudarmos e não pensarmos só em nós.

4. Como inicias-te o teu percurso de medicina dentária?

R: Comecei sem saber naquilo que me metia. Aquilo que me fascinava e fascina na medicina é o poder ajudar o outro quando ele mais precisa (na doença). Queria algo que fosse próximo á medicina clínica - algo em que tivesse contacto direto com os pacientes. Na altura quando optei por medicina dentária não tinha bem noção de como isso poderia acontecer - como é que um médico dentista poderia ajudar quando estamos a falar de dor (dor a sério).

Ao entrar no curso foi uma surpresa enorme quando vi que os primeiros anos (sobretudo) nada tinham a ver com dentes - são anos correspondentes ao ciclo básico de medicina (a famosa medicina geral) e só depois é que, da mesma forma que em medicina os alunos se focam nas diferentes especialidades, nós focamo-nos nas nossas.

Depois de um curso de 5 anos, depois de algumas experiências engraçadas (tais como a prisão onde estagiei ou o hospital) cheguei á conclusão de que o sofrimento de que falava - sofrimento físico (dor) - também acontece, e muito frequentemente, na boca, dentes e estruturas anexas.

Hoje, depois de poder ver um bocadinho de tudo o que esta área engloba descobri um gosto enorme na cirurgia e patologia oral, onde sou capaz de diagnosticar e tratar doenças agudas ou crónicas que afetem a cavidade oral.

5. Com que frequência se deve consultar um dentista?

R: Devemos consultar o médico dentista não só quando temos um problema (uma dor forte ou uma queixa urgente) mas também numa perspetiva de prevenção. Idealmente, se não houver nada em contrário é recomendado de 6 em 6 meses. No caso de pacientes ditos "especiais" (diabéticos, hipertensos, em tratamentos mais complicados como a radioterapia etc.) devemos apertar no controlo e acompanhar de uma forma mais constante.

6. Quantas vezes por dia devo lavar os dentes? E no caso das crianças?

R: O ideal será 2 ou 3 vezes por dia, e isto é assim por uma razão: a placa bacteriana (resultado da "sujidade" que vai ficando nos nossos dentes no dia a dia demora 24h a amadurecer e tornar-se tártaro. A escovagem impede isso. (...)

7. Quantas vezes por ano é que se deve mudar a escova de dentes?

R: Apesar de não ser "ciência nuclear" é uma questão complexa, mas a melhor resposta que posso dar é: quando a nossa escova deixar de fazer efeito! Existem vários tipos de escova com vários tipos de filamentos (mais suaves, mais fortes etc.) quando os filamentos perdem a sua capacidade está na hora de mudar de escova!

8. Ser fumador, prejudica a dentição?

R: Afeta a dentição no que diz respeito á coloração por exemplo, mas afeta mais o periodonto.

• Explicar o que é o periodonto

• Explicar de que forma é que o tabaco o prejudica;

• Falar do potencial carcinogénico.

• Tabaco convencional vs o tabaco eletrónico.

O tabaco eletrónico é uma excelente alternativa - não sou que o digo mas sim a evidência que existe (meta-análises e revisões sistemáticas que são os níveis máximos de evidência científica existentes).

As primeiras gerações de tabaco aquecido eram prejudiciais à saúde e isso devia-se á resistência eletrica que existe no cigarro eletrónico que aquecia a um ponto que libertava metais pesados que eram inalados. Hoje em dia não é assim. O iqos, por exemplo, aquece e só fica pronto a fumar quando a temperatura é a adequada - sem libertação de metais pesados.

9. O que causa a sensibilidade dentária?

R: • Falar da estrutura do dente responsável pela sensibilidade dentária (túbulos dentinários);

• Explicar os fatores responsáveis;

• Tratamentos (laser e dessensilizantes) por ordem de abordagem terapêutica.

10. Achas que os dentistas, ainda são vistos como algo fora do comum?

• Falar do dever médico;

• Falar da fobia (o que causa; formas de contornar);

• Panorama da Medicina Dentária em Portugal

11. Como dentista, consideras-te como?

R: • Consciente do dever que tenho não só para com a classe que represento mas, sobretudo, para com os pacientes.

• Tento que os pacientes percebam que tudo o que fazemos e dizemos é (ou deveria ser) baseado em ciência pura e dura. Que na medicina, na medicina dentária, na psicologia etc. a nossa opinião é o patamar mais baixo em termos de evidência - há que seguir protocolos e ter conhecimento não só prático (como tinham antigamente os barbeiros que tiravam dentes) mas também teórico.

• Falar da boca como, muitas vezes, reflexo de patologias sistémicas - HIV, drogas, importância na medicina legal (identificação das vitimas) doenças de outro foro.

12. Pensas-te alguma vez mudar de área?

R: • Falar na medicina - cirurgia maxilo-facial

• Existem outras áreas completamente diferentes onde acho que me ia dar bem - piloto de aviões.

• Quando era mais novo sonhava ser pianista - Acho que as pessoas não estão preparadas para ouvir música clássica e a entenderem. Partem logo do princípio que é para os velhinhos e que é sempre a mesma coisa - é a maior mentira! Dizer que não gostamos de música clássica é o mesmo de dizer que não gostamos de comida - eu pessoalmente não gosto de cozinha indiana, mas adoro um bom rodízio de sushi! Com a música passa-se o mesmo: eu não acho piada a Stravinsky, mas adoro ouvir um concerto para piano de Rachmaninoff!

13. Como é exercer a tua profissão noutro país que não o teu?

R: Acho que é muito gratificante não só em termos do salário, mas também do trabalho que desempenhamos.

Em Portugal, infelizmente, há dois fatores que impedem que haja uma medicina dentária de qualidade, a educação e as possibilidades financeiras - e a sociedade não tem diretamente culpa nisso - há um trabalho enorme de educação e consciencialização que tem de vir de berço. Em Portugal apenas quem tem possibilidades financeiras tem acesso a uma medicina dentária de qualidade e a todo o tipo de tratamentos. Em França há um sistema justo para todos poderem ter acesso aos cuidados de saúde oral:

• Falar do sistema de saúde "Mutuelle" e segurança social (CMU).

14. O que pensaste quando aceitaste o convite de trabalho para o estrangeiro?

R: Não houve muito a pensar... As condições eram perfeitas e vinha com amigos - o que foi extremamente importante porque tornou fácil a minha integração. Tive muita sorte na forma como fomos recebidos na clínica onde trabalho e ofereceram-me logo condições excelentes de casa e transportes - consegui arranjar uma casa ao nosso gosto, próxima da clínica onde trabalho e numa vila calma, com comércio e lojas como em Portugal. Temos ainda a sorte de termos o RER próximo para sempre que queremos passear a Paris ou outros sítios e ainda a sorte de morar a 6km do aeroporto de Orly, onde consigo viajar de uma forma baratíssima.7

15. Para terminar, queres deixar algum conselho a quem está a começar a trabalhar, agora nesta área?

R:Acho que qualquer estudante de medicina dentária tem de pensar que não basta atualmente 5 anos de ensino graduado - já foi tempo em que sim, mas cada vez mais é necessário diferenciarmo-nos, e isso deve começar logo que possível! Existem imensas palestras, cursos e formações que são gratuitas para os estudantes e que devemos aproveitar! Dessa forma começamos desde cedo a perceber que especialidades e existem e quais aquelas com que nos identificamos mais - isso permite-nos delinear um plano mais claro de formação a investir e impede-nos de perder tempo a pensar naquilo que podemos fazer.


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