Entrevista a Nelson Vidal

09-05-2020

Natural de São Pedro da Cova, Nelson Vidal partiu para o Equador para a maior aventura da sua vida! 


1- Quem é o verdadeiro Nelson?

R: Um rapaz simples, que ama a vida, que gosta de se divertir, que gosta muito do seu trabalho, que ama a família e ser pai.

2- Consegues caracterizar-te com uma palavra?

R: Realmente não sei. Creio que uma palavra não pode descrever uma pessoa e correria o risco de interpretações equivocadas.

3- Da tua infância, o que te lembras mais?

R: Das casas dos avós. Tanto no Ramalho (avós maternos), como no Carvalhal (avós paternos), em São Pedro da Cova. São as melhores memorias. As brincadeiras, o calor do fogão a lenha que aquecia o ambiente e o espírito. São memorias sempre em família.

4- Tens alguma ligação a música? Se sim o que e desde quando?

R: Sim, aprendi musica desde os 11. Na Escola de Musica dos "Leões do Ramalho". Estávamos penso eu em 1998. O pouco que sei de musica agradeço ao Professor Horácio Castro. Um mestre e amigo. Toquei flauta bisel (a comum) e depois guitarra clássica. Por agora a musica está um pouco em Stand-by, enquanto surgem outros projetos na vida.

5- Tiveste alguns projetos enquanto estiveste em Portugal? Quais?

R: Fiz muitas coisas desde a adolescência. Voluntariado com crianças e idosos, voluntariado desportivo na Federação portuguesa de Futebol, no Euro 2004 e vários outros eventos, projetos de missão, com vários voluntariados em Portugal. Também tive oportunidade de participar em estágios científicos. Entretanto fui trabalhando também. Primeiro como vendedor de internet e de cartões de crédito, depois em grandes superfícies comerciais, neste caso Continente e Jumbo. Antes de entrar na Faculdade, trabalhei nas obras como ajudante de montador de tetos e paredes de gesso cartonado (pladur). Entretanto também estive algum tempo em atividades politicas, sendo eleito para a Assembleia de Freguesia de Fanzeres e São Pedro da Cova, função que tive de interromper quando viajei para o Equador. São experiencias variadas e cada uma delas foi importante para a formação que tenho hoje.

6- A nível escolar, seguiste a faculdade, tiraste algum curso?

R: Sim, entrei no curso de Arquitetura Paisagista na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Depois da licenciatura, fiz o mestrado também em Arquitetura Paisagista. Terminei em 2014.

7- Foi fácil escolheres a área que seguiste?

R: Neste caso foi mais um acaso. Entrei na última opção que tinha escolhido e fui um pouco à descoberta. Depois de entrar no curso comecei a gostar muito. hoje não podia imaginar ter outra profissão.

8- Como surgiu o convite para trabalhares fora do país?

R: Surgiu através da internet. Para trabalhar em dois projetos no Equador, em 2014. Nessa altura Portugal estava em plena crise económica e praticamente sem saídas profissionais. Pensei, porque não? Tinha ideia de ficar entre 6 meses a 1 ano, mas entretanto as coisas correram muito bem, tanto a nível profissional como pessoal e acabei por cá ficar até hoje.

9- Quais foram as reações da família, ao saber que irias para fora?

R: Sempre apoiaram. Apesar de ser difícil, os meus pais sempre nos ensinaram (a mim e ao meu irmão) que cada um deve seguir o caminho que o faca feliz.

10- Quais eram os teus maiores medos quando partiste para o Equador?

R: A incerteza do que poderia encontrar. O país não era muito conhecido em Portugal. Como será a cultura? Serei bem recebido? Poderei trabalhar lá? Será fácil a adaptação? Essas eram as perguntas que tinha nesse momento.

11- Como foi preparar tudo para a nova aventura da tua vida?

R: Fácil. Tratar do visto e da viagem e 2 meses depois estava no Equador. Não foi difícil conseguir o visto. E a viagem foi paga pelo atelier de arquitetura paisagista que me contratou.

12- Como foi teres que partir, sabendo que a tua família iria ficar "para trás"?

R: Essa foi a parte difícil. Deixar a família, os amigos, a namorada nesse tempo. Sabíamos todos que ia ser um desafio.

13- Lembraste das últimas coisas que te disseram antes de seguires viagem?

R: Lembro, mas essas ficam guardadas cá dentro. Sente-se, mas não se pode partilhar.

14- Quais as maiores diferenças que sentiste quando chegaste ao Equador?

R: Tantas coisas. Varias culturas, diversas, e muito ricas. Uma diversidade incrível de ambientes, paisagens. É importante explicar que o Equador tem 4 regiões muito marcadas: Costa do Pacífico, Andes, Amazónia e Ilhas Galápagos. Cada uma destas regiões alberga culturas próprias, muitas vezes indígenas. E em cada região as pessoas adaptaram-se para poder viver e produzir uma variedade incrível de alimentos. É difícil explicar como pode apaixonar este país.

15- Religiosamente: há alguma diferença?

R: A grande maioria da população é católica. Também se encontram outros grupos religiosos (evangélicos, muçulmanos, hindus, bahais, mórmones) mas com pouca expressão na população. Aqui, como em muitos outros países, a religião está muito ligada ás tradições e culturas locais.

16- Há quantos anos trabalhas no equador?

R: Desde Setembro de 2014. Já lá vão quase 6 anos.

17- Queres explicar um pouco do que é o teu trabalho?

R: Eu sou arquiteto paisagista. Depois de trabalhar como consultor, agora trabalho como diretor de áreas verdes da cidade de Cuenca. É uma cidade com aproximadamente 600.000 habitantes um concelho de aproximadamente 750.000. O trabalho consiste em manter, melhorar e reconstruir parte dos 450 há de áreas verdes da cidade. A equipa de trabalho é muito boa, com excelentes técnicos.

18- Como diretor de áreas verdes, tens alguma preocupação a nível de desflorestação?

R: Tenho varias preocupações. A principal é manter e melhorar a qualidade de vida das pessoas através da melhora do espaço publico. Isto consegue-se estabelecendo uma estrutura ecológica na cidade e, a base de uma estrutura ecológica urbana são ar arvores. Então pode-se dizer que a preocupação não é tanto a desflorestação na cidade, mas sim a reflorestação que é necessária para ir construindo estas estruturas. Outra grande preocupação é a económica, mais concretamente como conseguir uma eficiência dos recursos públicos, com melhores serviços e menores custos. Por ultimo temos as mudanças climáticas. É um desafio conjugar estes aspetos com as mudanças constantes de clima, quando ainda não sabemos bem qual é o caminho.

19- Sentiste dificuldade na comunicação com as pessoas de lá?

R: Não houve dificuldade na comunicação. Acho que quando estamos sozinhos podemos desenvolver algumas capacidades mais rápido do que pensávamos. Neste caso a necessidade de comunicação falada e escrita constante fez com que aprendesse espanhol em poucos dias.

20- Além de ti, há alguma comunidade portuguesa no Equador?

R: Não existe uma comunidade portuguesa. Estão por cá alguns portugueses (uns 12 em Cuenca), principalmente nas grandes cidades (Quito e Guayaquil), mas muito dispersos para conformar uma comunidade. Existe também um grupo de facebook de Portugueses no Equador que podem consultar em: facebook.com/groups/portuguesesnoequador

21- Há algum cantinho português, que de para matar saudades de Portugal?

R: Não. Como não há comunidade também não há nenhum sitio reunião de portugueses por aqui.

22- O que sentes mais falta?

R: Da família e dos amigos, que são o mais importante. Depois, também da comida portuguesa. Aqui a comida é muito boa, mas não é a mesma coisa.

23- Houve algum acontecimento, enquanto aí estas, que te marcasse mais?

R: Alguns momentos importantes, talvez os mais marcantes sejam o terramoto de abril de 2016, em que morreram 600 pessoas e algumas cidades foram praticamente ou parcialmente destruídas e este confinamento que temos agora. Situações muito distintas na sua génese, mas com impactos sociais e económicos devastadores.

24- Entretanto encontraste o amor ... Como é casar, fora da tua terra, sem os amigos e família mais próxima? Qual o sentimento?

R: Entretanto conheci a minha esposa em 2016, casamos em 2017. Puderam viajar os meus pais, irmão e cunhada. Ambos sabíamos que sendo de países diferentes, sempre teremos algumas dificuldades porque não é possível estar com as duas famílias em simultâneo. A família e os amigos estiveram presentes não de corpo, mas de coração.

25- Quais foram as reações dos teus amigos de Portugal, quando souberam que ias casar?

R: Ficaram contentes. Surpreendidos, obviamente. Talvez um pouco tristes por não poderem estar presentes, mas felizes pelo passo que ia dar.

26- A família aumentou! Como está a ser a experiência para os 2?

R: É sem dúvida a melhor experiencia da vida. A mais bonita, a mais assustadora, talvez a mais difícil, mas sem duvida a melhor.

27- O que significa para ti a palavra "família"?

R: É a base. É de quem descendemos, quem nos educa, quem dá o amor, quem nos forma como cidadãos, quem sempre está presente e, agora como pai, é para quem vivemos e trabalhamos.

28- Quando pensas em Portugal, o que pensas, o que sentes mais saudades?

R: Da família e amigos, das paisagens, da comida, da praia, do frio. Até de passear no 10, entre Beloi e Ervedosa.

29- Deixaste alguém importante para trás? Quem?

R: Não diria que deixei para trás. Creio que todas as pessoas que passam pela vida de cada um, deixam algo de cada uma e levam algo de nós. Guardo com carinho todos os que algum dia tiveram uma importância na minha vida.

30- Como te imaginas daqui a 10 anos?

R: Não faço ideia. Há 10 anos seria impossível pensar que estaria nestas circunstancias hoje, por isso não faço grandes prognósticos.

31- Se surgisse a oportunidade de voltares a Portugal, voltarias e trazias a família?

R: Depende muito das oportunidades laborais que possam aparecer. Aqui encontrei estabilidade pessoal e laboral que são fundamentais para poder ter boas condições para a família que aqui comecei. Não fecho portas, mas sei que não será fácil encontrar oportunidades laborais em Portugal com as condições que tenho no Equador, atualmente.

32- Deixaste algo por dizer a alguém?

R: Não, nada. Tudo está no seu sitio.

33- Como estas a viver esta pandemia?

R: Confinado em casa com a esposa. Eu estou com teletrabalho e vou aproveitando para fazer uns cursos online. Nunca se pode deixar de estudar e aprender algo.

34- Termino esta entrevista com uma pergunta do meu trabalho de escrita: "Será que somos capazes de cultivar agora as nossas saudades futuras"?

R: Acho que para cultivar as saudades futuras, temos de viver hoje. Viver intensamente, com responsabilidade e com muito amor em tudo o que fazemos.

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