Testemunho"Luto" de Bernardo 

01-02-2021

Luto por perdas e consequências da vida

Olá! Venho hoje testemunhar sobre um assunto à qual ninguém gosta de abordar porque é um assunto bastante delicado - o luto.

O luto nunca foi fácil de fazê-lo nesta vida, sobretudo quando se trata da perda de um ente querido bem próximo, de um término de uma relação ou até mesmo as consequências de um ato após uma decisão difícil que temos de fazer em algum momento na vida que pode advir de certas situações que estamos a viver.

É uma fase em que parece que caímos num poço, com a fraqueza à flor da pele, as emoções explodem como uma erupção vulcânica ou até podemos encher o nosso caldo, privando-as internamente e a duração da mesma tanto pode ser longo e sem sol à vista como pode ser breve e seguirmos com a vida mais rapidamente. O processo de cada um é sempre único visto que somos todos diferentes e damos sempre significados diferentes e únicos às coisas conforme a nossa ligação que temos e também com a nossa capacidade de lidar com as coisas conforme a "bagagem" que carregamos na vida.

Eu, com 11 anos, perdi os meus avós maternos no mês de dezembro! A minha avó era minha segunda mãe, ou seja, ela esteve sempre presente na minha infância, ou seja, eu era o menino da avó! Tomava conta de mim enquanto os meus pais estavam a trabalhar. Aprendi tanta coisa com ela, desde o jogar às cartas até à humanidade que ela tinha e transmitia-me nas situações em que estava em apuros, após ter feito alguma asneira no momento. Sempre que fazia algo de mal, lá estava ela ali a aconselhar-me para ir emendar as coisas. O meu avô já não era tão ligado a ele, mas gostava dele. Ainda cheguei a ensinar à minha avó a escrever SMS's e fazer chamadas e depois, sempre que ia para atividades desportivas ou para outros eventos, já tinha uma mensagem da minha avó a perguntar se estava bem e a mandar beijinhos. A causa de morte da minha avó foi por uma falha médica, e do meu avô já não me lembro bem, e infelizmente também tive que fazer o meu processo de luto sozinho, visto que todos estavam em sofrimento e não deu para ter o apoio que me pudesse reconfortar a perda de um grande pedaço do meu coração e tinha acabado de perder amigos nesse ano. Durante 2 anos da minha vida, as minhas lágrimas secaram completamente... Até no próprio funeral deles, não me caiu uma lágrima sequer. Simplesmente não queria acreditar naquilo que aconteceu.... Sofri uma depressão nesse ano e ainda fiz uma tentativa de suicídio, porque estava sem chão e sem direção. Foi um ano bastante difícil e pesado para mim e o processo de luto foi longo

Ainda passei por outro processo de luto, que foi uma amiga muito próxima. Ela era funcionária na escola e protegeu-me nos anos de ciclo (5º ao 9º ano) das pessoas que praticavam o bullying comigo (mais a partir do 7º ano). Foi a única amiga com quem pude contar nestes anos, ela já parecia família pra mim. Contava-lhe mais coisas que a qualquer familiar ou amigo que tivesse na altura. Morreu quando eu tinha 17 anos. Aí as emoções vieram à ribalta! O meu choro foi quase um diluvio, fruto de tanta acumulação de emoções que estavam privadas, porque tinha perdido os meus dois "braços" que me amparavam e me protegiam.

Através da vida que comecei a levar nas sombras da minha família, visto que tenho uma família conservadora e é muito complicado quando se vive num ambiente que parece ditadura, cresci ainda mais depressa e fez com que, aos meus 18/19 anos, aceitasse que eles (os meus avós e a minha amiga) tinham morrido e deixei-os ir. O meu processo de luto pela morte dos meus avós foi sem dúvida muito longo porque para além de ter tido um impacto muito grande, só a partir dos meus 15 anos é que comecei a deixar que os meus amigos me ajudassem e me dessem o apoio que precisava e foi algo que me marcou para a minha vida e tenho imenso a agradecer e ainda pelas coisas que vi e que experienciei, foram essas coisas que fez de mim o ser humano que sou hoje. O luto pela minha amiga foi menos demorado porque já tinha a experiência e então demorou muito menos tempo a aceitar a morte da mesma, ou seja, foi na mesma altura que aceitei a morte dos meus avós, também aceitei a morte dela e deixei-os ir.

Concluindo, é bastante pertinente ajudarmos as pessoas que estão a passar por isto e ainda mais nesta fase do COVID-19 porque são novos tempos, mas contribui muito para o isolamento e devemos mostrar o nosso apoio e presença, mesmo à distância, a essas mesmas, ou seja, ser uma ajuda na medida que pudermos na vida dela. Basta uma palavra, uma frase, um gesto, um ato que podem marcar a diferença. Não é fácil esta fase mas não é impossível de sair dela, basta estender a mão que a tempestade transforma-se num lindo dia de sol com um arco-íris de gratidão, experiencia, sabedoria e esperança por dias melhores.

Bernardo Ferreira, 22 anos, Aveiro

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